sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

A alegria de um amigo

Trabalhos recentes sobre a amizade entre crianças, efetuados com vídeos nos quais se veem em interação, revelam que as do grupo de um e dois anos dão provas nítidas e fortes preferências por outras quando se encontram num contexto social. Os seus intercâmbios com um amigo escolhido são mais fortes, mais recíprocos e afetivos, no sentido mais sensorial possível. As crianças de dois anos emocionam-se quando sabem que o seu melhor amigo os vai visitar a casa e expressam a sua alegria de forma notável. Esperam-nos à porta, abraçam-se à chegada, embora logo a seguir se ponham a brincar separadamente. Em tão tenras idades costumam brincar em paralelo, mas não há dúvida de que entre elas existe uma proximidade emocional muito clara. São definitivamente amigos. 

Dos três aos sete, a amizade consiste no prazer de brincar juntos. Nesta idade as são capazes de pôr de lado as suas próprias necessidades e apetências para partilhar uma brincadeira com outro amigo, mais do que com vários ao mesmo tempo. Quando duas meninas de cinco anos passam a tarde a brincar juntas, demonstram uma maturidade muito desenvolvida. De início custa-lhe dividir, mas quando conseguem sentir-se mutuamente atraídas e perfeitamente integradas tornam-se um modelo invejável. Contudo é uma amizade que pode desfazer-se em questão de segundos, passar da adoração à zanga. Nessas alturas é natural ouvir uma das meninas dizer: “É que estou farta de ser sempre eu a fazer de noivo e ela de noiva”. Um pai pouco experiente poderá tentar intervir na brincadeira, mas embora pareça que pode ajudar, raras vezes uma criança recebe estas intervenções de bom grado. As intrusões dos adultos apenas atrasam o processo de reconciliação. Mas os mais experientes sabem que a melhor solução é introduzir um elemento novo e fora do contexto do género “então meninas, querem tomar um refresco?”. Graças a essa mudança inesperada, o forte ego de uma menina de cinco anos acalma e, pouco depois, ambas voltam a brincar como se nada fosse.




A adolescência 
Enquanto que a fantasia é a nota que caracteriza as brincadeiras entre os três e os sete anos, a partir desta fase a conversação e a "mexeriquice" começam a fazer parte integrante da amizade. Não só porque nesta idade já são capazes de manter conversações com mais substância, mas também porque têm mais assuntos de que falar, nomeadamente o ambiente social da escola, as histórias de bairro têm um estatuto e hierarquias. Os bons amigos tornam-se conselheiros uns dos outros. Analisam e opinam sobre as respectivas apetências, problemas e relações, estipulando os seus próprios objectivos.

Por volta dos sete anos, em qualquer escola ou centro de reunião comunitário, igreja, clube desportivo etc., onde se misturam os dois sexos, os grupos começam a dividir-se segundo o género. Nessa idade, e até antes, produz-se a descoberta universal do “outro”, esse alguém estranho e diferente. Para isto não há ajuda possível. É pois nesta faixa etária que se produz uma consciência clara das diferenças biológicas e começa um período de exclusividade do grupo, dentro do qual se tende a estabelecer um estatuto de hierarquia e poder em relação ao mesmo sexo. 

É um processo rigoroso e muitas vezes cruel, no qual se estabelecem os critérios de liderança e as normas de comportamento. Os rapazes tendem a apoiar-se uns nos outros para reforçarem a sua posição e estão dependentes dos mesmos para zombar das suas debilidades ou admirar o seu poder. As coisas mudam ao chegarem aos 12 anos no que se refere à amizade. 

A obrigação de querer deslumbrar o grupo dá lugar a relações mais estreitas e emocionais. É no início da adolescência que os jovens parecem necessitar desse amigo único em quem podem confiar sem reservas. É quando começam a contar os seus segredos e as mágoas do coração, os seus medos e as suas expetativas. As raparigas normalmente falam mais sobre estes assuntos. O estoicismo masculino exige que os rapazes conheçam as preocupações do seu amigo, mas sem necessidade de entrar em grandes pormenores. Todas estas etapas são os alicerces que constroem as amizades adultas, nas quais se partilham atividades ou jogos, mexericos, cooperação e proximidade emocional. 

É importante salientar que o que interessa não é o número de amigos que as crianças têm mas sim a qualidade das amizades que mantêm. Os primeiros sinais de formação de um grupo podem observar-se logo aos oito ou nove anos, mas são mais percetíveis aos 11 e claramente visíveis aos 12, 13 e 14, tornando-se o motivo principal das suas vidas. Contudo, os “bandos” desmembram-se por altura dos 17 anos e apenas as que foram realmente populares tentam sobreviver, para não esquecer a magnífica sensação de prestígio e o poder que dá pertencer a um. É precisamente durante esta etapa que se vivem grandes medos e complexos. Nestes grupos de raparigas, os modelos de aceitação são dados pela roupa, aspeto e magnetismo social; nos rapazes, pela capacidade atlética, pela força e liderança verbal. É também altura da exigência de marcas.

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