terça-feira, 24 de novembro de 2015

Como explicar os atentados às crianças?


Os especialistas em crianças têm demonstrado uma grande preocupação em ensinar os pais e educadores a lidarem com a informação dos atentados de Paris e do terrorismo em geral. De seguida apresentamos uma reportagem da RTP, do programa A Praça, no dia 18 de novembro, com a Psicóloga Magda Gomes Dias. 

Deveremos falar com os nossos filhos acerca dos atentados de Paris? A partir de que idade as crianças estarão prontas para escutarem falar sobre estes assuntos?
Uma criança de 3 anos já tem noção do que se passa à volta dela, do que os adultos falam e do que ouve, seja na TV ou na rádio.
 Não temos por isso nenhum interesse em não explicar o que aconteceu. Porquê? Porque é importante que a criança, sobretudo se houver algum tipo de ligação - há muitas famílias que têm familiares em França e que estão por isso ainda mais preocupadas - saiba o motivo da ansiedade dos pais ou da sua tristeza e consternação.
Quando a criança apreende a realidade através das palavras dos pais, então não irá ela, sozinha, construir a sua realidade, com base em fantasias ou sustentada no medo.

Mas eu não tenho nenhuma ligação a França e os meus filhos não vêem os noticiários.
Respondo-te com um comentário que uma mãe deixou hoje no
 Facebook.
"A minha não se apercebeu de nada no fim‑de‑semana e na 2a feira veio da escola a falar disso... Achei que não tinha de dizer nada e afinal... enganei-me!
 "

Pois é, eles percebem tudo, como disse acima...

E se eles não tocarem no assunto... Bom, convido-te a ler este artigo:
A filha mais velha do assessor de comunicação André Serpa Soares fez aquilo a que os psicólogos chamam evitamento. Naquela noite, saiu da cama dela, enfiou-se na cama dos pais e pediu-lhes que a deixassem dormir lá, de luz acesa. Não se pôs a fazer perguntas sobre os atentados. Não quis conversa. Quis apenas ficar ali, em silêncio. O pai abraçou-a toda a noite e foi-lhe dizendo: "não te preocupes”; “estamos em casa”; “estamos em segurança”, estamos juntos”; “isso não vai acontecer aqui”, “eu protejo-te sempre".


Se eles não falam, fala tu. Não é porque não falas que isso não vai acontecer. Antes fosse. Não é porque falas que vais estar a destruir a vida dos teus filhos.
Como 
sabem falámos sobre este assunto com a nossa filha cá em casa. Falamos no Sábado e novamente no Domingo. Falaram na escola na segunda. Ela tinha tudo arrumado na cabeça. Falamos, explicamos, respondemos às questões todas. Com respeito por ela e pela seriedade da situação. No final, ela pediu-me que me chegasse a ela e disse: preciso de um abraço, tenho um bocadinho de medo.
E eu dei o abraço, sorri e aceitei sem dizer nada.
Ela sossegou e dali a pouco estava a brincar com o irmão.
 
Gostava que fosse sempre fácil protegê-los como nos filmes. Mas a vida real é outra coisa.


Mas devemos explicar tudo? O que dizer? O que não dizer?

Devemos explicar qb, sem entrar nos detalhes mórbidos que ninguém precisa. De resto deveremos ser factuais e claros. Se a criança nos abordar, deveremos pegar logo nessa deixa e perguntar-lhe o que é que ela já sabe, o que ouviu e onde ouviu. E pode ser que ela saiba e diga ou espere que falemos. Seja nessa circunstância ou na circunstância em que nós vamos falar, deveremos sempre começar pelas perguntas:

Sabes o que aconteceu na passada sexta-feira, em Paris?

Na sexta-feira, em Paris - e podemos mostrar um mapa até, se quisermos - aconteceu uma coisa trágica. Alguns homens armados mataram outras pessoas que estavam a jantar e a divertirem-se.

Ponto.

E depois explicar o porquê, até porque é a pergunta que a criança vai colocar. E então vamos ao porquê.

Porquê, mãe?
Porque desde sempre existiram formas de pensar diferentes e tu sabes disso. Só que há pessoas que não suportam que outros pensem diferente deles - acham que toda a gente tem de pensar, gostar de tudo igual. E como não suportam essa ideia, então decidem matar os que eles acham que estão contra eles - e foi isso que aconteceu.

Depois devemos esperar pelas perguntas. Podemos ter questões como quem são essas pessoas - os terroristas - se nos vamos cruzar com elas, enfim… e deveremos responder a todas as questões sem medo.

Mãe, e isso vai acontecer aqui, no nosso país?
Bom filho, eu penso que não, é pouco provável. Sabemos que o mundo inteiro, e sobretudo a polícia, está a procurar ajudar a acabar com esta situação. 

Mãe, quem são essas pessoas?
São terroristas. É difícil saber quem são porque elas vestem-se iguais a nós.  Não sabemos quem são mas isso não nos impede de viver e fazer a nossa vida. 

É importante passarmos uma mensagem de esperança?
É fundamental que essa mensagem seja passada! É fundamental que se diga que muitas pessoas foram salvas por médicos, por polícias e por outras pessoas na rua. E é fundamental que se diga que todos devemos lembrar-nos de sermos tolerantes uns com os outros, e que a liberdade é algo precioso. Podemos explicar como era antes quando não havia tanta liberdade, falar dos valores fundamentais - é uma excelente oportunidade.
Voltar às rotinas, voltar à vida e fazer tudo por a viver.

E se a criança ficar com medo? E se ela ficar tensa, o que fazer?

Eu fiquei tensa, com medo. E penso que todos ficámos. É normal que ela se sinta assim. Então está na altura de lhe colocar questões. ‘Estás com medo que isso aconteça aqui? Bom, é pouco provável e tenho a certeza que todas as pessoas estão a fazer tudo para nos protegerem.’ Darem abraços, confirmarem que também ficaram com receio… e que por isso é importante falar sobre o assunto.

Ouvi no outro dia que se os pais mostram medo, a criança perde a confiança neles. Achei que era um disparate. Os pais sentem medo, naturalmente, Mas é justamente quando falam sobre este assunto que se sentem com forças, sobretudo quando falam aos filhos sobre ele porque depois de o fazerem sentem que terão, mais do que nunca, de continuarem a vida, valorizando o que de mais importante temos: a liberdade e a importância de sermos família, construindo dia-após-dia.

E se a criança quiser saber mais ou tiver visto imagens que não devesse ter visto ou ouvido coisas que não deveria ter ouvido?
Mais do que nunca, é necessário que se fale sobre este assunto - que expliquem o que viram, o que sentiram e que esses vídeos ou imagens são de tal forma chocantes que não querem que os voltem a ver porque não trará nada de benéfico para a situação. 



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