O momento do parto é aguardado, com mais ou menos
ansiedade, por todas as mulheres. E, para "ajudar", há sempre quem
insista em afirmar como verdades irrefutáveis algumas ideias
pré-concebidas. Eliminá-las é uma boa ajuda para encarar a chegada de um
filho de forma mais tranquila.
Será verdade...
… que a experiência se repete de mães para filhas?
Não. Logo que anuncia a gravidez, a
mulher é bombardeada com relatos, mais ou menos impressionantes, dos
partos de familiares e amigas. E o maior destaque vai, habitualmente,
para as recordações menos positivas. Mas não há um nascimento igual ao
outro (mesmo no caso de mais do que um filho) e também não existem
fatores hereditários que determinem como as coisas vão correr. Ou seja,
se a sua mãe teve uma fase de dilatação especialmente longa, ou se
acabou por ser submetida a uma cesariana, não há qualquer razão para que
tal ocorra necessariamente consigo. O contrário também é verdadeiro:
não é certo que o seu parto seja curto apenas porque na família essa é
uma situação recorrente. O importante é estar preparada para todas as
eventualidades e desfrutar do momento.
… que a dor de parto é insuportável?
Não. O processo de parto envolve
sensações dolorosas, que vão das contrações ao momento da expulsão. No
entanto, a dor pode ser vivida de forma diferente de mulher para mulher e
está relacionada com muitos fatores, entre os quais os níveis de
tolerância, a forma como é, ou não, aceite e as condições em que o
nascimento tem lugar: quanto mais serenidade, privacidade e apoio
existirem, menos a grávida experimenta a tensão que multiplica as
experiências desagradáveis. Quando a dor é entendida, pura e
simplesmente, como um sofrimento desnecessário e motivo de medo é
natural que pareça mais difícil de aguentar. No entanto, se for encarada
como natural e mesmo uma aliada – pois são as contrações dolorosas que
ajudam o bebé a atravessar o canal de parto e a sair – surge como uma
experiência que, no final, traz o melhor resultado possível.
… que um parto demorado significa que nem tudo está bem?
Não. O processo de parto pode
arrancar sem que a mulher se dê conta e, habitualmente, é o que acontece
nas semanas que antecedem o momento das primeiras contrações dolorosas.
Na fase de pré-parto, ou latente, o colo do útero vai ficando cada vez
mais fino e pode começar a dilatar, em especial nos casos de primeiro
filho. A saída do rolhão mucoso – que cobre o colo – ou o rebentar das
águas são entendidos como o início da fase de parto ativo mas, mais uma
vez, podem decorrer horas e mesmo dias até que a dilatação atinja os
quatro centímetros. E é aí que o processo tende a acelerar. De qualquer
forma, entre os quatro e os dez centímetros (altura em que a abertura já
deixa passar a cabeça do bebé) podem decorrer de oito a 12 horas e a
expulsão demorar até quatro horas, sem que haja qualquer problema. A
vigilância apertada que é feita ao bebé e à mãe permite aos
profissionais de saúde perceberem quando a demora já não é normal e é
preciso agir.
… que um bebé grande tem mais dificuldades para nascer?
Não. O tamanho e o peso do bebé não
são, por si só, razões para que o nascimento seja mais difícil ou longo e
não deveriam ser o único motivo para equacionar uma cesariana mesmo
antes do parto ter início. No entanto, pode acontecer que as dimensões
da pélvis da mãe ou a colocação da cabeça dificultem ou impeçam a saída
do bebé, o que deverá ser avaliado pelo profissional de saúde à medida
que o parto decorre. De qualquer forma, estas dificuldades são mais
comuns no caso de um primeiro filho. Em suma, mesmo no caso de um bebé
grande, não há razão para dificuldades de maior a partir do momento que a
pélvis da mãe for adequada e a cabeça do bebé estiver na posição mais
apropriada.
… que não se consegue fazer força com a epidural?
Por vezes. A analgesia epidural corta
a sensibilidade nas zonas do abdómen e da pélvis, atenuando ou mesmo
fazendo desaparecer a dor. A maior parte das mulheres continua, porém, a
sentir o início de cada contração, em especial o endurecimento da
barriga, e nesses momentos fazem força, destinada a levar o bebé na
direção da saída. No entanto, para outras, o nível de anestesia e de
relaxamento dos tecidos é tal que deixam de estar atentas às contrações,
não conseguindo perceber quando é o momento de fazer força, o que pode
fazer demorar o período de expulsão. Cabe ao médico ou à parteira
ajudar, dizendo à mulher as alturas em que o ‘empurrão’ é fundamental.
… que se o primeiro parto foi cesariana, os seguintes também terão de ser?
Não. Durante muito tempo, o risco de
rutura uterina após uma primeira cesariana levava a que muitos médicos
optassem por esta cirurgia nos nascimentos seguintes. No entanto, vários
estudos internacionais revelaram que este risco não chega a um por
cento, mesmo no caso de mulheres com mais do que uma cesariana. Para
estes números contribuem as técnicas atualmente usadas: a incisão
transversal baixa – habitualmente tapada pela linha do biquíni – diminui
a eventualidade de rutura, quando comparada com a antiga incisão
vertical. De acordo com os mesmos trabalhos, um parto vaginal depois de
cesariana também não aumenta consequências indesejáveis ao nível do
aparelho urinário ou de lacerações da artéria uterina.
… a episiotomia é quase certa?
Não. A episiotomia é o corte
cirúrgico dos tecidos do períneo, entre a vagina e o útero, destinado a
alargar o canal de parto. Durante muito tempo, esta intervenção era
quase sistemática em todos os partos mas, nos dias de hoje, é crescente o
número de nascimentos em que não acontece. A Organização Mundial de
Saúde (OMS) recomenda mesmo que os obstetras sejam altamente criteriosos
na aplicação do procedimento e apenas optem pela episiotomia caso os
tecidos afetados estejam na iminência de rasgar de forma descontrolada.
Isto porque a recuperação de uma episiotomia implica a aplicação de
pontos, cuja aplicação pode afetar a futura atuação dos músculos
perineais. Massajar o períneo na reta final da gravidez aumenta a
elasticidade dos tecidos e a sua distenção no momento em que o bebé sai o
que, em muitos casos, evita que rasguem naturalmente ou que sejam
cortados.
… que o primeiro parto é mais demorado que os seguintes?
Por vezes. Habitualmente, uma mulher que vai ser mãe pela primeira vez experimenta períodos de dilatação e de expulsão mais longos do que uma mãe experiente e isso é tido em linha de conta por quem a acompanha. E isto
deve-se à pouca distenção que os músculos e tecidos possuem. No entanto,
e como cada nascimento é irrepetível, pode dar-se o caso que as
circunstâncias do segundo parto levem a um processo mais longo do que na
primeira vez.
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