Na maior parte dos casos os miúdos não têm
problemas de sono e sim problemas de afeto. E o afeto não pode ser dado só à
noite e sim de dia. É possível aprender a dormir e dormir é um sinal de
independência saudável!
A regra deverá ser: afeto antes de dormir, sossego depois, em camas separadas
Daniel
Sampaio escreve sobre o tema e deixa-nos algumas ideias que valem a pena toda a nossa atenção.
Existe hoje
alguma controvérsia sobre se os filhos devem dormir na cama dos pais, pelo
menos durante os primeiros meses de vida. Podemos afirmar que existem vários
tipos de “parentalidade noturna”: alguns progenitores são rigorosos em proibir
uma noite inteira na sua cama, outros transformam-na numa verdadeira “cama
familiar”, em que uma ou duas crianças se acomodam,
às vezes com manifesta falta de espaço, no leito conjugal.
Os meus pais eram muito coerentes na sua educação. À hora de deitar, eu ia
dormir sozinho, sem grandes protestos. Embora não me recorde, como é óbvio, dos
meus tempos de bebé, as estórias que me contavam eram de uma ida precoce para a
minha cama; e se acordava de noite, a minha mãe ou a minha avó iam lá
sossegar-me os medos, sem que tivessem de perturbar o seu descanso por muito
tempo.
Hoje nem todos pensam como os meus familiares. Os pais trabalham muito,
reivindicam para si mesmos uma noite sem interrupções ou preferem não ter de se
confrontar com choros e birras das crianças. Defendem o seu direito ao
descanso, por vezes numa posição de algum narcisismo. A solução passa então por
aceitar que os filhos os acompanhem durante longos períodos ou mesmo toda a
noite, de modo a que não haja qualquer período de insónia.
Alguns pediatras e psicólogos vieram em sua defesa. Alegam que a
proximidade entre pais e filhos facilita a intimidade recíproca, acalma as
crianças e permite uma tranquilidade que favorece o desenvolvimento físico e
mental. Defendem que dormir junto aos pais é a melhor forma de evitar a
“síndrome da morte súbita”, a primeira causa de mortalidade no primeiro ano de
vida, e que corresponde à morte repentina e sem explicação no primeiro ano do
bebé. Segundo os defensores doco-sleeping (dormir em conjunto) e da family-bed (cama
familiar), os pais que estão mesmo ali ao lado podem logo intervir e salvar o
filho. A investigação provou, no entanto, o contrário: a síndrome da morte
súbita ocorre muitas vezes em bebés que estão na cama dos pais, sobretudo
quando os progenitores abusam de álcool e drogas ou tomam medicamentos para
dormir.
Os meus argumentos contra o
co-sleeping são outros. Considero que o desígnio fundamental da educação é o da
autonomia, esse percurso singular que leva cada um a ser capaz de gerir a sua
própria norma, ou seja, ter uma existência independente e confiante. Uma
criança pequena não pode viver sozinha, mas pode construir o seu caminho para
ser capaz de o fazer mais tarde. Assim, dormir sozinho faz parte desse percurso
a percorrer. Até aos seis meses, a criança deve dormir num berço junto à cama
dos pais, depois (no máximo com um ano) deverá ter o seu quarto e a sua cama,
sempre que as condições da casa o permitam.
A
investigação abre caminho a outras compreensões deste problema do co-sleeping. Diversos estudos demonstram que
as crianças que permanecem muito tempo na cama dos pais exacerbam
comportamentos sexuais precoces e exibem curiosidade excessiva sobre a
intimidade dos progenitores. Por outro lado, muitos pais tornam-se demasiado
permissivos (em muitos contextos), porque não são capazes de confrontar os
filhos com um “não” durante a noite, ou então acabam por mostrar sentimentos de
culpa, por darem demasiada importância às suas próprias necessidades de repouso
e bem-estar.
Retirado de: http://www.publico.pt/sociedade/noticia/dormir-com-os-pais-1663724
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