quinta-feira, 2 de junho de 2016

Birras, Castigos, Consequências e Justiça

Expressões como ‘ele está a testar-me’, ‘ele sabe o que me tira do sério, ‘é impressionante, com o avô não faz ele isso’ fazem parte do dia a dia de muitas famílias. E é curioso como estas frases são mais frequentes em pais de crianças com idades entre os 18 meses e os 5 anos.

As vulgares birras, e choros e ‘os cinco minutos’ do seu filho são o reflexo de uma frustração qualquer. Ou ele não consegue encaixar as peças dos legos, ou ele quer continuar a brincar na piscina em vez de ir embora para casa, ou bem que ele quer, porque quer ir de havaianas para o colégio em vez de galochas. Ele quer isso, ele acha que pode. E se não deixamos? Ele chora, grita, mostra a frustração dele, o descontentamento. Num mundo ideal tudo seria possível. Como não há mundo assim, essa é a forma que ele arranja [e todos eles] para mostrar o desagrado.

AGORA VAMOS PEGAR NUM CASO CONCRETO.

Hoje decide ir com o seu filho ao supermercado. São as promoções do Natal, está tudo a 50%. Diz-lhe que vai só entrar, levar o detergente para a loiça e o pacote de guardanapos que está a faltar lá em casa. Diz-lhe que não vai levar mais nada e ‘temos mesmo de fazer isto a correr, não vou comprar mais nada, não vale a pena pedires ou estares com coisas. ’. E passa a correr pelos corredores que transbordam de caixas cheias de bonecos. Ele quer ver. Mas continua a andar. Como ele até está calmo, aproveita para levar mais uns bifes de frango, iogurtes para os lanches e um garrafão de água. E ele começa a ficar chato, birrento. Começa a dizer-lhe que quer as bolachas do Mickey, depois já quer a escova de dentes do homem-aranha e agora quer o dentífrico do Cars. Com isto percebe que tem de ir embora mas pensa, de repente que até podias levar mais uns ovos e um saco de arroz, afinal de contas é num instante. Mas ele diz ‘preciso mesmo da escova do mickey porque a minha já é velha’. E como já está cansada diz ‘pronto, pega lá mas é a última coisa que pedes caso contrário vamos já embora.’

O que é que ensinou? Ensinou a testar limites.
Como assim?
Disse-lhe que não valia a pena pedir nada.
Ele pediu 3 ou 4 vezes. E…deu-lhe. Ele percebeu que quando insiste obtém o que quer.

Da próxima vez vai repetir o comportamento. Simplesmente repetir.
Não é um teste, não é uma provocação. É, simplesmente, a repetição de um comportamento.
E isto leva-nos à questão dos castigos. Tantas e tantas vezes castigamos os nossos filhos por sentirmos que eles estão a ‘esticarem-se’ [E quando tantas vezes fomos nós que os baralhámos, não é?].

VAMOS LÁ DE NOVO PEGAR NUM EXEMPLO CONCRETO.

Vai ao supermercado, o seu filho começa a dificultar-lhe a tarefa e você pede-lhe que se acalme e se comporte. Ele continua e diz-lhe que caso continue naquilo, da próxima vez não vai consigo.
E ELE CONTINUA….! Faz o que tem a fazer e sai exausta desse supermercado.
Dali a dois ou três dias decide ir novamente ao supermercado. Ele diz que vai consigo, mas você diz-lhe que NÃO. Relembra a conversa e lembra que foi ele que decidiu que desta vez não iria consigo [afinal de contas deu-lhe a escolher]. E ele chora e diz que se vai portar bem.

A sua decisão [de o levar ou não] pode ser estruturante e construtora. É uma situação do dia a dia e tem na mão a possibilidade de retirar o sofrimento/tristeza/frustração do seu filho. E de si também porque afinal sabe que pode estar a sofrer/triste/frustrado.
Esta sua decisão tem mais impacto do que um castigo proferido dois dias antes como um ‘então quando chegarmos ficas sem ver o Panda’. Isto porque a situação do supermercado nada tem a ver com o Panda. E um castigo mostra que os grandes têm poder – mas não lhe ensina, diretamente, a consequência do comportamento e a responsabilidade que ele tem nas decisões que toma.

Quando decide que NÃO O LEVA está a trabalhar no futuro, também. Da próxima vez, ele vai lembrar-se que ele tem em si o poder de:

1                 1) decidir o comportamento dele
                   2) decidir o futuro
                 3)  tomar uma decisão em consciência porque sabe que a mãe/pai faz bater a “bota com a perdigota” e não tem de ser má ou sentir-se mal porque vai ter de aplicar um castigo... O que vai acontecer é que ele é que vai escolher. E a escolha é só dele, ok.?

Fácil, não é? NÃO! É mesmo muito difícil, sobretudo quando tem de fazê-lo cumprir uma consequência 2 dias depois e quando ele até se anda a portar bem. Asseguro-lhe que é muito mais duro para si do que para ele. Ainda assim, esta decisão e atitude é muito mais coerente, justa e ensina muito mais.
E quando é justo, eles aceitam a autoridade dos pais. De seguida deixamos um vídeo que demonstra outra atitude positiva e que nos ajuda a exercer, cada dia, uma parentalidade mais positiva. Vale a pena fazer estas alterações na sua vida. Experimente!


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